Por Consuelo Blocker

No mês de maio, a família Corsini de Florença abre seu secular jardim, localizado no centro da cidade, para apresentar uma fascinante feira de artesanato – a propósito, a curadoria também é feita pela família real de forma impecável! A visita, como não poderia deixar de ser, é um momento de lindo e calmo prazer. As tardes em meio à natureza são caracterizadas pela presença de famílias e grupos de amigos, pela arquitetura de tirar o fôlego e pela valorização do que é feito à mão – tudo com a elegância do slow food, slow walk e slow talk!

Em dias assim, buscamos o hedonismo, característica marcante da filosofia de vida italiana… Algo que eu e a Bontempo levamos na alma e gostamos de compartilhar com vocês

Pertencente à família Corsini desde 1620, foi nos meados do século 17 que Filippo Corsini confiou a criação de um jardim italiano (aquele geométrico, que pela fama de Versailles é erroneamente atribuído à França) a Gherardo Silvani. Ele foi o responsável pela criação de uma alameda interna adornada com estátuas que até hoje vemos na parte de trás da casa. As esculturas repousam sobre pedestais que diminuem em altura para dar uma ilusão óptica de maior amplitude – truques arquitetônicos dignos de quem tem olho, talento e experiência (lembra alguém? Começa com “B”! ;-).

As lindas decorações geométricas em verde aninham grupos de plantas e flores como as belíssimas peônias, a minha flor favorita

Os artesãos desse evento são escolhidos a dedo pela Itália afora e, por isso, é possível encontrar de tudo: roupas, comida, joias, bijoux, chapéus, cestas, elementos de decoração, perfumes… Passeando pelas alamedas e limonaies – plantas de limão típicas da Toscana –, se vê como cada um exerce seu mestiere (ofício, arte) em dezenas de demonstrações.

Trabalho feito à mão que enche de orgulho seus criadores

Ainda é possível comprar peças ou encomendar, afinal, personalização é essencial em um bom padrão de viver, não é?!

Adorei o serviço de pratos de vidro colorido cheios de pequenas imperfeições. Nenhuma peça é igual a outra e permite que possamos montar uma mesa multicolorida

O trabalho de trançar cestos sempre me fascinou! Desde que vivia no Brasil, eu parava para ver os artesões ajustando assentos de cadeiras 

E como não se encantar com as lindas peças de decoração que trazem conchas, corais e galhos do fundo do mar?! Eram moda séculos atrás, e ainda hoje acho muito sofisticado. Entretanto, o coração derreteu mesmo foi com os quadros com pequenos santos: colagens lúdicas de uma sensibilidade única!

Para matar a fome depois de tanta caminhada, nada melhor do que os cantuccini (“cantinhos”), biscoitos durinhos com pedaços de amêndoas, perfeitos para se molhar, com os dedos mesmo, no Vin Santo. Aqui encontramos também novas variações do clássico até com pedaços de chocolate.

Pelo jardim, para a felicidade da criançada, passeiam centenas de tartarugas que vivem aqui há quase mais tempo que os príncipes Corsini.

Elas parecem simbolizar, justamente, o quanto se pode estar bem nesse ambiente onde a pressa fica do lado de fora dos muros!

Foto: Roberto Leone