Pra não dizer que não falei de moda… por Cris M. Zanferrari
Refletindo sobre moda. A nossa querida e intuitiva colaboradora, Cris M. Zanferrari, dona do blog Mania de Citação e do Instagram Prosa Poesia, nos traz uma reflexão muito interessante… obrigada Cris!
Era inevitável. Mais dia, menos dia, o assunto teria de vir à pauta. Como assim nunca ter falado de moda num blog sobre moda, tendências e comportamento? Por outro lado, como me atrever a falar de moda num blog sobre moda, tendências e comportamento? Logo eu, que já cheguei a pensar que moda é ocupação de quem não tem com o que se ocupar? Falar de moda, eu?
Preconceitos abandonados ao final da adolescência, ouso sim falar de moda. É que falar de moda hoje é quase tão natural como falar da previsão do tempo. Claro, há quem o faça com conhecimento e autoridade, mas falo do mesmo lugar de onde fala a vizinha de apartamento, a estudante de biologia, a profissional liberal: falo do lugar de quem a consome. E que ninguém se engane pensando que não se deixa levar por esse bem de consumo. A menos que você viva numa comunidade alternativa, não há quem resista a uma bela vitrine ou a folhear uma revista sem reparar nos anúncios de jeans e afins. A moda nos entra pela vida como um combustível a injetar sonhos e aspirações. Ou, simplesmente: a moda é a projeção de nossos desejos.
Quando, dez anos atrás, li “A arquitetura da felicidade”, do filósofo Alain de Botton, lembro de ter ficado supresa diante da revelação de que uma casa, mais do que expressar quem somos, expressa como, na verdade, gostaríamos de ser. Uma casa excessivamente organizada, por exemplo, não implica que seu morador seja um sujeito calmo e centrado. Ao contrário, a ordem e o alinhamento de móveis e decoração representariam o desejo de o morador aquietar e acalmar uma mente agitada e até turbulenta. O filósofo suíço parte, portanto, do princípio de que nos cercamos de formas materiais que nos proveem com aquilo de que necessitamos interiormente.
Tenho pensado que se isso vale para a arquitetura pode bem valer também para a moda. Sempre se disse que a moda é um meio de expressão, que a moda comunica, que o modo como nos vestimos diz muito sobre nós. Pois bem. Talvez diga ainda mais sobre quem ou como gostaríamos de ser. Talvez por isso é que quem deseja parecer autoconfiante sobe no salto. Quem deseja transmitir seriedade e competência, usa peças clássicas e elegantes. Ok, nada disso é regra, mas a verdade é que mesmo que se queira esquecer ou negligenciar o dress code, a maneira como nos vestimos projeta _ de uma maneira ou de outra_ o modo como estamos nos sentindo ou como desejamos nos sentir. Deve ser por isso que, chegando aos cinquenta, adoro usar um jeans rasgado e uma jaqueta despojada. Não tenho dúvidas de que o poder de um item fashion preenche o desejo de juventude tanto quanto um botox.
Mais o tempo passa, mais percebo que vestir-se é um exercício de autoconhecimento. Aprende-se a valorizar certas partes do corpo e a disfarçar o que se consideram as imperfeições. Aprende-se que determinadas cores favorecem, iluminam, acendem o look e o astral. Aprende-se que um belo acessório pode compor toda a diferença no visual. Aprende-se que ler livros e blogs sobre moda pode ser útil e nos poupar de alguns micos, mas que a palavra final sobre a roupa que se veste só pode ser mesmo a nossa. Aprende-se que descobrir o próprio estilo é tarefa que pode levar anos; às vezes, a vida toda.
Aliás, pensando bem, a vida toda é muito longa para se ter um único estilo. Nada mais démodé. E, por favor, não me levem a mal, mas ter usado a expressão francesa ao final de um texto, que era pra ser sobre moda, também me pareceu inevitável.
por Cris M. Zanferrari
- May 26, 2017
- 16
- Cristina Momberger Zanferrari
Paty
26 de May de 2017Querida Cris,
Adoro seus textos!!!!
Sim, pertenç0 ao grupo das de "ambientes arrumados para acalmar a alma." Mas até isso muda com o passar do tempo - assim como o modo de vestir-se. Ainda bem. Iria morrer de tédio se ficasse "stuck" num estilo só a vida toda :))).
Bisous,
Paty
Cris M. Zanferrari
26 de May de 2017Paty querida!
Quando a gente olha pra trás, vê que já curtiu muitos estilos diferentes, não é assim? Eu já tive uma fase muito hippie (ainda hoje curto peças tie-die), já gostei bem mais do estilo rocker e a cada dia descubro alguma coisa diferente ou um jeito diferente de usar um item já antiguinho. Bom brincar com a moda, né?
Adorei saber que gosta dos meus textos... muito obrigada!!
Beijo carinhoso
ROSÂNGELA DIAS
26 de May de 2017Que texto gostoso!!! Amei Chris!!!
Amo a moda e tudo que se relaciona!!!
Cheguei aos cinquenta e cada vez mais amo e consumo moda. As pessoas que me cercam, sempre comentam sobre meu estilo...falam que queriam saber vestir-se ou ter estilo como eu, enfim. Digo sempre a mesma coisa, há anos, se gostou da peça, se caiu bem em você e se você é feliz usando-a? Se joga meu! Ter estilo, não é somente perseguir uma linha de tendências ou, modos comportamentais pré definidos, é também ter coragem, afinal, para comprar e usar um jeans rasgado, quando aos olhos de alguns seria uma peça pra descartar, requer ousadia.
O que te parece?
Cris M. Zanferrari
26 de May de 2017Querida Rosângela!!
Também estou curtindo moda muito mais do que já curti a vida toda!! Será que é coisa da idade?? Hehehehe...
Concordo plenamente com você: é preciso uma certa ousadia pra usar determinadas peças! Sempre que visto um jeans rasgado (e visto com frequência), ouço alguma gracinha a respeito. Não vou dizer que seja preconceito, acho que é tudo uma questão de opinião, e algumas opiniões não são favoráveis, simples assim. Mas não me incomodo, porque cheguei a uma idade em que sei o que me cai bem, o que me faz sentir confortável e, sobretudo, sei o que combina com o meu jeito de ser. Além disso, vejo o universo da moda como um grande playground, onde posso escolher os brinquedos com os quais quero brincar!
Obrigada pelo gentil comentário, e olha, adoraria conhecer teu estilo!!!
Bjs afetuosos
Mia Athayde
26 de May de 2017Cris, adorei passear nas tuas palavras e lendo teu texto, uma ideiazinha ficou martelando aqui na minha cabeça ... será que hoje as expressões da moda que se tornaram tão amplas, não fizeram da palavra um conceito que já não comporta o que exprime?
Consuelo, vc pode me ajudar e responder!
Penas nos sapatos estão na moda bem como flatforms, bico fino ou tênis ...
É quase um vale tudo desde que reflita o estilo de cada um, não é meio assim?
De qualquer forma e depois do devaneio (e me desculpe por ele) te digo que me dá um prazer imenso te encontrar por aqui!
Cris M. Zanferrari
26 de May de 2017Mia, queridona!!!
A nossa amada Consu com certeza tem todo know-how pra responder o teu questionamento. Mas arrisco dizer que acho que é isso mesmo que você falou: "é quase um vale tudo desde que reflita o estilo de cada um". Deve ser isso a tal democratização e globalização da moda!! Cada um poder exercer o domínio sobre o próprio guarda-roupa e dele retirar a sua própria assinatura (estilo) e ser feliz!
Obrigada pelo carinho de sempre, amada!! Te acho super estilosa, viu?
Beijo carinhoso pra essa linda vovó!!
Mia Athayde
26 de May de 2017Muito obrigada Cris!
A vovó aqui está muito feliz!
Bjs
Glória Jane Melo
26 de May de 2017"A alma não tem segredo que o comportamento não revele". Este texto que fala sobre moda por uma perspectiva comportamental lembrou-me esta afirmação que li em algum lugar. A alegria e a tristeza, a celebração e o luto determinam o que vestimos. Além do que eu desejo conscientemente parecer.
O risco é não aceitarmos nossos limites como idade, biotipo e querer uma imagem que já não combina mais com nosso corpo.
Beijos
Cris M. Zanferrari
26 de May de 2017Adorei essa citação, Glória!!
Muito obrigada por complementar!
Bjo, querida!!
Andrea - Curitiba
26 de May de 2017Ai Cris, como vc escreve bem e sempre toca nossa alma! Me encaixei super neste teu texto...parece que foi escrito para mim...haha...Continue nos brindando com essas perolas!! Bjssss
Cris M. Zanferrari
26 de May de 2017Aiiiiiiiii, como fiquei feliz com esse seu comentário, Andrea!! Adoro quando acontece essa identificação!!
Muito obrigada, amada!!
Bjs com muito afeto!
Marina Marques
27 de May de 2017Olá Cris, gostei muito da sua inteligente perspectiva, sobre a dinâmica de como nos vamos olhando e percepcionando dependendo da idade que temos e da circunstância em que estamos.
O que vestimos sem dúvida é o nosso modo de exteriorizar e de comunicar. O que sentimos quando usamos certas peças? Eu tenho por exemplo uma camiseta do David Bowie que, por vezes, uso com um blazer preto. Sinto-me moderna e confortável, tem tudo a ver comigo. Por isso entendo bem o feeling desse seu jeans rasgado. Sobre o Livro A Arquitetura da felicidade, fiquei entusiasmada e quero ler ;).
Bjs
Cris M. Zanferrari
27 de May de 2017Marina querida!!
Esse seu look deve ser sensacional, adorei a combinação!!
Espero que você goste do livro do Botton! Eu o considero um grande pensador dos nossos tempos.
Beijos carinhosos pra vc, querida!!
Vera Marques
28 de May de 2017Amei esta reportagem, como tantas deste blog. Mas, esta me remeteu a dois livros que guardei: "a arquitetura da felicidade" (adoro arquitetura, nessa dimensão. minha filha fez arquitetura, mas no final resolveu seguir minha profissão: sou médica, mas sempre defendi que a casa tem que ser o lar e te representar, ser sua vida) e o livro ' o essencial' de Constanza. Já disse aqui que sempre a considerei o ícone da elegância (queria morar num lugar e ter mais condições para usar os seus casacos lindos). Mas, hoje me identifico muito com você, Consuelo, embora pela minha idade (60 anos) seja uma mistura de vocês duas.
abraços
Elisete Neves
28 de May de 2017Perfeito texto e reflexão. Sou psicóloga e tenho trabalhado num tema justamente sobre as diferentes formas de morar e viver e suas ligações psicológicas. Parabéns.
Cris M. Zanferrari
28 de May de 2017Querida Elisete!
Fiquei curiosa pra saber mais sobre esse seu trabalho!! E também adorei saber que vc gostou do texto! Muito obrigada!!
Bjs com carinho!
Solange Lopes
29 de May de 2017Lindo texto. Você escreve de forma clara, precisa e ao mesmo tempo tão delicada. Sempre fico encantada! Adoro o assunto, moda para mim sempre foi ir alem de se vestir, seria o revelar-se.
Cris M. Zanferrari
29 de May de 2017Solange querida!!
Ganhei o dia com o seu elogio!! Muito obrigada!!
Bjo grande e afetuoso pra vc!
Mariza Guerra
29 de May de 2017Querida Cris,
Seus textos são sempre deliciosos. É sempre um passeio. Além de escrever bem é linda e estilosa.
Beijos,
Cris M. Zanferrari
29 de May de 2017Mariza, minha querida!!
Que alegria saber que você, além-mar, encontrou um tempinho pra vir aqui e ainda deixar esse carinhoso comentário!!
Muito obrigada, amada!!! Você é um doce!
Bjo super afetuoso!
Marina Di Lullo
29 de May de 2017Cris querida, voto pelo jeans rasgado, jaqueta e bota! Yes! A moda pode ter tantas faces, cores, cortes. A vejo assim. Pode ser colorida, monocromática, pode ser tudo. Assim como a arte, se nos surpreende, melhor ainda. Ou, se é segura, também vale. É grande, diz da cultura, do lugar, do tempo, um retrato. Algo que vai e que vem, fluxo constante. E que o fluxo do tempo te traga logo por essas bandas, amiga! Beijo grande, Marina
Cris M. Zanferrari
30 de May de 2017Marina querida!!!
Concordo plenamente com tudo o que você disse!! A moda é tudo isso mesmo!
E, sim, dia desses algum vento bom me leva por aí e a gente se encontra, amiga querida!! Vai ser muito bom poder te dar um grande e afetuoso abraço!!
Beijão!!!
Marina Di Lullo
2 de June de 2017Oba, estou te esperando pra esse abraço delicioso!! Beijão
Ana Paula
31 de May de 2017Achei o texto perfeito. Me vi nele!
Adorei principalmente esta parte: "O filósofo suíço parte, portanto, do princípio de que nos cercamos de formas materiais que nos proveem com aquilo de que necessitamos interiormente."
Isto explica muita coisa agora...rsrs.
Cris M. Zanferrari
31 de May de 2017Obaaa!!
Adoro quando há essa identificação, Ana!!
Muito obrigada, querida!!
Bjs mil
Cassiano Lopes
31 de May de 2017Cris, que texto pertinente!
Me identifiquei "horrores".
Concordo com tudo, principalmente com a frase: "mesmo que se queira esquecer ou negligenciar o dress code, a maneira como nos vestimos projeta _ de uma maneira ou de outra_ o modo como estamos nos sentindo ou como desejamos nos sentir..."
Exatamente!Tem dias que me sinto down no high society e meu dress code nada mais é que um moletom, uma calça confortável e flip-flops! Quando me sinto o top notch, aí o ângulo muda. Procuro o melhor modelito para expressar alegria e entusiasmo. Inclusive com paetês hahahahaha
Bjocas amada!
Cris M. Zanferrari
31 de May de 2017Cassi querido!!
Parece que falamos a mesma língua, dear!! E tem mais: conforme o mood of the day, escolho além da roupa o perfume "do dia". Cada um combina com uma energia diferente (sou fiel a três fragrâncias, mas sempre alterno os usos...hahaha).
Obrigada pelo carinho, meu querido!!
Bjs afetuosos
Marta Oliveira
31 de May de 2017Amei seu texto Cris! Tenho muito cuidado ( até excessivo segundo meu marido..rss) em me vestir pois vou fazer 62 e às vezes sua cabeça é de 22 mas o corpitcho..kkk.. enfim vou usando a maturidade ao meu favor e tendo muito cuidado em não ser influenciada por essa nossa mídia cruel..beijos grandes
Cris M. Zanferrari
31 de May de 2017Marta, querida!!
Fiquei feliz que tenha gostado do texto, muito obrigada!!
Acho bacana esse cuidado que você tem, porque às vezes é bem complicado conciliar a juventude da cabeça com a maturidade do corpo...kkkkkkk... tenho sentido isso na própria pele: acabei de completar 50 anos!!
Bjo carinhoso pra vc!!
luciene felix lamy
31 de May de 2017Lôka pra falar de moda, agora uma paixão! Assim que puder, eu volto, amiga. Zilhões!!! lu.
Cris M. Zanferrari
31 de May de 2017Luuuu, amada!!
Volte sim! Volte mesmo!
Estarei esperando!!
Bjs afetuosos pra vc, linda!!